Era a noite de um sábado (25), quando uma criança autista se distraia apertando uma buzina insistentemente. Ela estava com seu pai em um bar, onde nem todas as pessoas pareciam estar muito satisfeitas com os barulhos da buzina. Após se mostrar incomodado com a situação, um homem teria iniciado uma discussão com o pai da criança, ameaçando-o. O suspeito teria ido para casa e, mais tarde, retornado armado ao bar, onde atingiu o pai da criança com autismo sem dar a ele chance de defesa, o que o teria levado à morte (clique aqui para acessar a fonte da notícia).
Infelizmente, essa não é uma história fictícia. Essa foi uma tragédia amplamente noticiada por diversos veículos jornalísticos do país nos últimos dias.
Apesar do ocorrido ter sido extremamente trágico, a ocorrência de diversos níveis de intolerâncias com relação a comportamentos atípicos de pessoas com TEA não é de hoje. Em menor ou maior grau, familiares e indivíduos no espectro sofrem constantemente com olhares, julgamentos, comentários e até mesmo ações de quem não entende ou nem mesmo quer entender o contexto.
Estereotipias e os desafios das famílias de crianças autistas
Quantas vezes você já presenciou a cena de uma mãe tentando acalmar uma criança chorando a plenos pulmões na rua, enquanto outras pessoas ao redor observavam a cena com ar de julgamento?
Esse é um típico episódio de como, normalmente, a sociedade costuma lidar com os comportamentos que fogem do que seria “aceitável”. Nesses momentos, a culpa recai sobre a família, que por vezes é tida como culpada pelo comportamento da criança. Porém, no contexto de famílias com crianças autistas, essas situações socialmente estressantes ocorrem com mais frequência do que em famílias neurotípicas. Isso acontece principalmente pela ocorrência de estereotipias e comportamentos disruptivos, bastante presentes em crianças no espectro e muitas vezes relacionados à desregulação emocional.
A regulação emocional é a capacidade que desenvolvemos ao longo da vida de lidar com nossas emoções. Assim, quando atingimos um nível de maior ou menor intensidade de determinada emoção, conseguimos equilibrá-la ao ponto de atingirmos o estado de bem-estar.
Essa é uma habilidade que não nasce com a gente; ela precisa ser aprendida e aprimorada. Quando não desenvolvida, a falta de regulação emocional possibilita o surgimento de adversidades psicológicas, que podem se estender por toda vida do indivíduo. Por isso, é importante trabalhar essa competência ainda na infância, seja em crianças no espectro ou fora dele.
No entanto, além desta desregulação normalmente ser naturalmente presente na infância, crianças com TEA acabam sofrendo mais frequentemente com isso, uma vez que diversos estímulos diários podem gerar bastante desconforto nelas.
Na ânsia de atingirem um nível equilibrado de suas emoções, elas acabam chamando mais atenção, seja com gestos ou sons. Agora imagine estes comportamentos socialmente incomuns somados às reações de quem não os compreende: o resultado não poderia ser outro além do desgaste pscioemocional de seus familiares.
Conscientização: uma questão de sobrevivência
Se você está aqui, provavelmente faz parte direta ou indiretamente da comunidade autista, seja como uma pessoa que está no espectro, um familiar, um profissional ou estudante, um pesquisador ou professor. Por ter algum tipo de conexão com esta temática, é normal que você tenha noção das peculiaridades de pessoas com TEA e, por conta disso, tenha consciência da constante luta pela aceitação e inclusão desses indivíduos na sociedade.
Porém, apesar disso ser claro para quem, de alguma forma, faz parte da luta, a sociedade no geral ainda não está acostumada com o diferente, punindo muitas vezes quem deveria ser acolhido.
Ainda existe muita desinformação sobre o autismo, o que faz com que muitas pessoas que não têm vivência com a síndrome não saibam como lidar e nem mesmo exercitem a empatia. Desinformação mata, tanto metaforicamente quanto literalmente.