“Aqui medimos a frequência de experiências de vida negativas em adultos autistas e exploramos como elas estão associadas a sintomas atuais de ansiedade e depressão e satisfação com a vida. Desenvolvemos o Quociente de Experiências de Vulnerabilidade (VEQ) por meio de consulta às partes interessadas. O VEQ inclui 60 itens em 10 domínios. Adultos autistas com diagnóstico clínico e controles não autistas completaram o VEQ, medidas de triagem para ansiedade e depressão e uma escala de satisfação com a vida em uma pesquisa online. A probabilidade de experimentar cada evento VEQ foi comparada entre os grupos, usando regressão logística binária. A análise de mediação foi usada para testar se a pontuação total do VEQ mediava a relação entre autismo e (1) depressão (2) ansiedade e (3) satisfação com a vida. Adultos autistas (N = 426) relataram maiores taxas da maioria dos eventos no VEQ do que adultos não autistas (N = 268)” (GRIFFITHS, Sarah et.al, 2019).
O ser humano é composto por experiências e ter um estudo que possa medir isso é diferente de muitos outros que já foram escritos. Como citado anteriormente, a pesquisa foi realizada a partir de medidas de triagem para depressão e de uma escala de satisfação.
O estudo mostrou que os adultos autistas são mais vulneráveis a muitos eventos negativos da vida, sobretudo com relação a dificuldades financeiras, de emprego e de abuso doméstico. Esses eventos negativos contribuem para uma alta taxa de sintomas de depressão e ansiedade, e pouca satisfação com a vida. Diante disso, falar de experiências negativas vividas é falar também de qualidade de vida, embora não haja um consenso da definição da última. Cito aqui as seis dimensões da qualidade de vida propostas por Michalos, citadas por Day e Jankey (1996):
- Primeira dimensão: refere-se a um objetivo-realização e relaciona-se às questões entre o que se tem e o que se quer ter;
- Segunda dimensão: diz respeito ao que os povos realmente consideram ser o seu ideal real de vida;
- Terceira dimensão: Envolve a relação percebida entre as circunstâncias atuais e o que se espera se tornar;
- Quarta dimensão: É a relação percebida entre a vida atual e vida que já se teve no passado;
- Quinta dimensão: Pressupõe que uma questão importante a ser analisada é o que é possuído por uma pessoa e pelo grupo de referência;
- Sexta dimensão: Refere-se à importância de buscar esclarecer o quão bom é o ajuste da pessoa no ambiente em que se está inserido.
Por isso, convido você leitor a pensar sobre a qualidade de vida das pessoas com Transtorno do Espectro Autista. A partir do VEQ foi possível pensar um pouco mais sobre as tantas experiências negativas e de vulnerabilidade que pessoas com TEA vivem, é necessário sempre ter muita atenção nos detalhes.
Obrigada por me acompanhar até aqui e até a próxima semana.
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Referências
DAY, H.; JANKEY, S.G. Lessons from the literature: toward a holistic model of quality of life. In: RENWICK, R.; BROWN, I.; NAGLER, M. (Eds.). Quality of life in health promotion and rehabilitation: conceptual approaches, issues and applications. Thousand Oaks: Sage, 1996.
GRIFFITHS, Sarah et.al. O Quociente de Experiências de Vulnerabilidade (VEQ): Um Estudo de Vulnerabilidade, Saúde Mental e Satisfação com a Vida em Adultos Autistas. Autismo Res. 12(10), p. 1516-1528, 2019. Disponível em: < https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31274233/ >. Acesso em: 02 de mar de 2022.
Pereira, Érico Felden; Teixeira, Clarissa Stefani; Santos, Anderlei dos. Qualidade de vida: abordagens, conceitos e avaliação. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte,v. 26, n. 2, p. 241-250, 2012. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbefe/a/4jdhpVLrvjx7hwshPf8FWPC/?lang=pt# >. Acesso em: 2 de mar de 2022.