Talvez você já tenha ouvido falar sobre autismo virtual, já que este foi um tema que esteve em alta nos últimos anos. Principalmente após a pandemia da COVID-19, muitos pais e familiares começaram a relatar o surgimento de alguns traços preocupantes em suas crianças, traços esses que também são bastante presentes em crianças com TEA. Mas quais seriam as causas do autismo virtual, de onde surgiu o termo e qual é a verdadeira situação desta condição você verá neste texto.
O contexto e o que é o Autismo virtual
Com a pandemia do Coronavírus em 2019, as pessoas passaram a ter uma vida mais doméstica, abrindo mão de suas rotinas normais de trabalho, estudo, diversão e afins. A troca do mundo real pelo digital afetou diversas pessoas, principalmente as crianças, que até hoje ainda sofrem com resquícios desse período em que tiveram uma menor interação social. O uso da tecnologia ficou ainda mais presente no dia a dia do público infantil, que precisou trocar as salas de aula por telas de computador, tablets e smartphones.
Com essa mudança de costumes e o excesso de uso de telas, muitos cuidadores começaram a perceber em suas crianças sintomas como atraso no desenvolvimento, pouca interação social, pouco contato visual entre outros.
Esses sintomas são bastante comuns em indivíduos com autismo, por isso, muitos pais e mães começaram a suspeitar da relação do espectro com as telas. Mas seria essa a única fonte dessas suspeitas?
Pesquisas sobre a relação do autismo com o uso de telas
Em janeiro de 2022, a revista JAMA Pediatrics publicou um estudo realizado por pesquisadores japoneses acerca da relação do uso de telas e o diagnóstico de autismo. A pesquisa acompanhou bebês de 1 ano que eram expostos a pelo menos 2 horas diárias a diversos tipos de telas (TV, smartphone, computador, tablets etc).
O estudo aconteceu entre janeiro de 2011 e março de 2014, no qual 84 mil crianças japonesas foram acompanhadas. Após este período, foi observado que as crianças que utilizavam algum tipo de tela por no mínimo 2 horas diárias tinham maior probabilidade de serem diagnosticadas com algum nível de TEA, resultado este que não foi observado em meninas. Além disso, os cientistas descobriram que a maior parte das crianças analisadas – cerca de 90% – tinham sido expostas às telas antes mesmo de completarem 1 ano de idade, o que não é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Academia Americana de Pediatria (AAP).
Quanto tempo as crianças podem usar telas?
De acordo com o Manual de Orientação divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em 2019, o tempo de uso de telas deve ser determinado de acordo com a idade da criança. As recomendações são de:
0 a 18 meses | não é recomendado o uso de telas |
2 a 5 anos | máximo de 1 hora diária |
6 a 10 anos | máximo de 2 horas diárias |
11 a 18 anos | máximo de 3 horas diárias |
Além disso, recomenda-se que o período de uso seja sempre supervisionado por um adulto e não inclua os momentos de refeição.
Clique aqui para saber mais sobre as orientações da SBP para o uso de telas
No final das contas, autismo virtual existe?
Apesar dos estudos apontarem para uma possível relação entre pessoas no espectro e o uso de telas, especialistas dizem que as causas desta condição estão mais relacionadas à questões genéticas do que ao ambiente. Ou seja, não, autismo virtual não existe. Acredita-se que esta correlação possa ser devido a um maior interesse das crianças autistas por telas, o que justificaria os resultados das pesquisas.
Clique aqui para conhecer os Instrumentos diagnósticos que podem ser utilizados para a avaliação
A verdade é que, apesar de muitos estudos sobre TEA, ainda não se tem todas as respostas quando falamos sobre as causas do autismo. No entanto, é extremamente importante dosar o tempo em que as crianças têm contato com os diversos tipos de mídias digitais.
Por isso, independente de sua criança estar ou não no espectro autista, não esqueça de trazer livros, músicas, exercícios e outros diversos tipos de atividades para sua rotina. Crie momentos especiais para tornar a realidade tão ou mais interessante do que o mundo digital.
Fonte
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