Teoria da mente e o TEA

Muitas pessoas pensam e até mesmo afirmam que pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) não possuem empatia e que não são capazes de amar. Neste texto irei explicar e desmistificar esse pensamento. Não é verdadeiro falar que pessoas com TEA não são empáticas, é até perigoso, pois cria-se um rótulo e uma falsa ideia dos seres humanos tão únicos que realmente são.

Cada ser humano tem sua subjetividade e isso não é diferente com pessoas com TEA, o que ocorre pode ser explicado pela teoria da mente que você irá entender agora.

Teoria da mente

“A expressão “Teoria da mente” (ToM) deriva de um prestigiado artigo publicado na década de setenta por um primatologista e um psicólogo, Premack e Woodruff, cujo título questionava se, a exemplo dos seres humanos, os chimpanzés também teriam uma “Teoria da mente” (1978).” (TONELLI, 2011). Esse termo refere-se a capacidade de um indivíduo compreender os estados mentais do outro (LIMA, 2019).

Atualmente o estudo da Teoria da Mente se estendeu para outros transtornos como a esquizofrenia e o transtorno bipolar, para a melhoria dos quadros e para a possibilidade de desenvolvimento de estratégias de prevenção e de tratamento das mesmas.

Relação da Teoria da Mente com o Autismo

O que acontece é que em pessoas com TEA há uma diferença no processamento cognitivo da Teoria da Mente, sendo assim podem ter uma incapacidade de inferir os estados mentais dos outros. Segundo (Frith & Happé, 1999) os mesmos podem apresentar empobrecimento no processamento de emoções, no reconhecimento das expressões faciais, do controle do olhar, do uso da linguagem pragmática (metáfora e ironia), da capacidade de imitação, do uso de gestos, e do reconhecimento de pensamentos e sentimentos de si mesmos e de outras pessoas. É possível observar a questão da teoria da mente em autistas a partir da escassez de jogos de faz-de-conta e na dificuldade em usar e entender termos associados a estados mentais.

Marcos do desenvolvimento infantil

Desde o segundo ano de vida:  o indivíduo tem a capacidade de atribuir estados mentais a outros já estariam em ação.

Entre dois e três anos: indivíduo tem a habilidade de interpretar desejos e emoções estaria instalada.

Aos quatro anos de idade: idade em que aparece o entendimento da noção de crenças e outros estados epistêmicos mais elaborados, mas a evolução da teoria da mente não se encerra nesse momento.

Após os quatro anos: surgem a compreensão mais sofisticada da ambiguidade e da ironia, o reconhecimento dos traços de personalidade alheios, o uso da intencionalidade para realizar julgamentos morais e o refinamento da capacidade de interpretar.

Considerações finais

Em pessoas com TEA esses marcos não ocorrem dessa maneira, diante disto a teoria da mente se compromete. De modo resumido, podemos observar que a teoria da mente é muito importante na vida de qualquer pessoa e quando há algum déficit, áreas do desenvolvimento mental podem ser afetadas. Em pessoas com TEA, portanto, a sociabilidade é uma área bastante afetada.

Obrigada por me acompanhar até aqui. Se você é um profissional da saúde ou possui clínica e quer saber mais sobre a ODAPP acesse: www.odapp.org.

Referências

LIMA, Rossano Cabral. Investigando o autismo: teoria da mente e a alternativa fenomenológica. Rev. NUFEN, Belém,  v. 11, n. 1, p. 194-214, 2019. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912019000100013 >. Acesso em: 24 de mar de 2022.

Teoria da Mente e autismo: qual a relação? Instituto de Psiquiatria PR, Paraná, 27 de jul de 2020. Disponível em: < http://institutodepsiquiatriapr.com.br/teoria-da-mente-e-autismo-qual-a-relacao/ >. Acesso em: 25 de mar de 2022.

Tonelli, Hélio. Autismo, teoria da mente e o papel da cegueira mental na compreensão de transtornos psiquiátricos. Psicologia: Reflexão e Crítica [online]. v. 24, n. 1.p. 126-134, 2011. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/prc/a/kQDx4WZqCRD9FwChDkdnH3m/?lang=pt# >. Acesso em: 24 de mar de 2022.

Rebeca Collyer dos Santos – 
Customer Success

Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, pós-graduada em Transtorno do Espectro Autista e pós-graduanda em Neurociência pelo Centro Universitário Internacional UNINTER, com cursos na área de Educação Inclusiva pela Universidade Federal de São Carlos. Atua como Psicóloga na clínica CAEP, em Poços de Caldas (MG) e como Customer Success na empresa ODAPP Autismo.