Princípios da Análise do Comportamento aplicados no ambiente escolar

Cada vez mais casos TEA diagnosticados estão surgindo pelo mundo e, consequentemente, aumentam-se as pesquisas sobre técnicas de intervenção para tratar os principais sintomas. Mesmo com as pesquisas muito bem qualificadas e com resultados de relevância científica, observa-se ainda uma lacuna quando se fala de intervenção dentro de sala de aula. Percebe-se uma parcela ainda pequena de estudos dentro do ambiente escolar, sendo a maioria destes aplicados em clínicas, ambientes familiares com crianças com idade pré-escolar e demais ambientes controlados.

Como os princípios da Análise do Comportamento podem ser utilizados na escola?

Os princípios são baseados no Behaviorismo de B. F. Skinner que iniciou seus estudos no comportamento animal e aplicou outras teorias ao comportamento dos seres humanos. As características desta teoria é observar a relação dos comportamentos, o ambiente que ele está presente, experiências individuais e, ainda, seleção pelas consequências, reforço, punição, esquemas de reforçamento, linha de base, resolução de problemas, controle aversivo, contingência, variabilidade de repertório, dentre outros.

Natalie Brito, psicóloga e redatora do site Comporte-se expõe acerca do tema:

(…) até os conceitos e sistemas já foram aprimorados por outros autores pós-Skinnerianos (como o de metacontingência (Glenn, 1986), equivalência de estímulos (SIDMAN, 1994), ou mesmo conceitos relacionados a ACT (Hayes, Strosahl e Wilson, 1999) e FAP (Kohlember e Tsai, 1991) na aplicação à escola, pois, apesar de serem sistemas predominantemente clínicos, seus conceitos e técnicas são úteis a outros contextos. Ou seja, estudar e se apropriar dos conceitos e sistemas é fundamental para qualquer analista do comportamento que trabalhe com aplicação. Essa é a dimensão teórica da nossa aplicação.

Apesar de a teoria ser muito importante para entender os modelos de estudo, durante as análises comportamentais podem aparecer dados ou situações não previstas. São fenômenos independentes que não podem ser controladas. Inclusive em métodos utilizados nas clínicas com base na psicologia aplicada encontram-se estes obstáculos também.

A dimensão técnica gira em torno dos conflitos que podem acontecer como: problemas entre a relação do professor, com a turma/sala que eles estudam e com o próprio aluno autista. O bom analista de comportamento irá avaliar todas estas contingências, mas para poder avaliar todos estes comportamentos (que não são poucos), necessita-se de um amparo dos sistemas e modelos teóricos.

Um dos maiores erros que são cometidos durante estes estudos são avaliar o processo de aplicação. Como Baer e Risley (1968) acreditam, devem-se avaliar os comportamentos e se eles são relevantes para o estudo. Caso sejam pertinentes, o momento agora é de inseri-lo à análise, mas atentar em qual categoria ou parte do processo e como isso pode influenciar ou trazer consequências para o estudo.

Por fim, são analisados os dados e tentativa da melhoria dos comportamentos específicos (Baer & Risley, 1968). Essa etapa levanta discussões pelo fato de como entender o que realmente é melhoria? Qual o valor ético empregado para estabelecer o que deveria mudar? São preposições que devem ser trabalhadas até nos dias de hoje para finalmente haver um consenso.

Adaptado do artigo “Análise do Comportamento aplicada ao contexto escolar: primeiros esboços” do site Comporte-se (link: https://www.comportese.com/2014/10/analise-do-comportamento-aplicada-ao-contexto-escolar-primeiros-esbocos)

Referências:

ANDERSON, Cynthia M.; SMITH, Tristram; WILCZYNSKI, Susan M. Advances in School-Based Interventions for Students With Autism Spectrum Disorder: Introduction to the Special Issue. 2018.

Baer, D.M.; Wolf, M.M.; Risley, T.R. (1968) Some current dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 1, 91-97. Traduzido por Aguirre (s/d). Tradução disponível em: http://www.itcrcampinas.com.br/pdf/outros/Algumas_ dimensoes.pdf.

Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano. Martins Fontes.
Glenn, S. S. (1986). Metacontingencies in Walden Two. Behavior and Social Action, 5, 2-8.
Sidman, M. (1994). Equivalence relations and behavior: a research story. Boston, MA: Authors Cooperative, Inc.

Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and commitment therapy: An experiential approach to behavior change. Guilford Press.

Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (1991). Functional analytic psychotherapy (pp. 169-188). Springer US.

Dittrich, A., & Abib, J. A. D. (2004). O sistema ético skinneriano e conseqüências para a prática dos analistas do comportamento. Psicologia: reflexão e crítica, 17(3), 427-433.

Adaptado por Ana Carolina Gonçalves, redatora do Observatório do Autista®.