Quase metade dos adultos com autismo sofre de depressão

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De acordo com uma nova pesquisa publicada no Journal of Anormal Child Psychology, quase metade dos adultos com autismo sofrerá coma depressão clínica durante a vida.

A depressão tem consequências devastadoras na vida de um portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA), podendo causar perda de habilidades que já foram trabalhadas e ensinadas, maior dificuldade de realizar funções do dia-a-dia e, no pior dos casos, o suicídio. Pessoas com autismo devem ser regularmente examinadas para que não desenvolva a depressão e, se caso for diagnosticado, acessar o tratamento adequado.

Até o momento, pesquisadores não sabiam a quantidade de indivíduos autista que sofrem com a depressão. Neste novo estudo, que envolveu uma revisão sistemática de quase 8.000 artigos científicos, revela evidências claras de que a depressão é altamente identificada tanto em crianças como em adultos com TEA. Também foi possível constatar que a depressão é mais comum em indivíduos com autismo que possuem mais inteligência.

Sintomas de depressão e autismo

A depressão clínica é definida pelo Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais como é uma doença mental que muitas vezes é caracterizada por períodos prolongados de tristeza. Sintomas adicionais incluem perda de interesse em atividades, mudanças fisiológicas (por exemplo, sono, apetite), alterações na cognição (por exemplo, sentimentos de inutilidade, problemas de concentração) e pensamentos e ações suicidas.

A depressão no autismo é definida pelos mesmos critérios, mas diagnosticar e detectar a manifestação da doença em pessoas autistas é um trabalho árduo. Os próprios autistas têm problemas de identificar e externar esses sintomas. O profissional que acompanha a pessoa autista deve se atentar as mudanças de comportamento ou comparar o quadro com outro indivíduo com o nível de autismo semelhante. Outro problema que os profissionais encontram é confundir os sintomas de depressão com o autismo porque algumas manifestações são parecidas, por exemplo, dificuldades nas interações sociais.

QI mais elevado, maiores taxas de depressão

Durante a revisão sistemática, descobriram que autistas com inteligência acima da média sofrem mais com a depressão. Em contra partida, na população em geral, as pessoas com menor inteligência possuem maiores taxas da doença. Apesar de não terem identificados os motivos na qual os indivíduos com inteligência superior estarem associados à depressão, criam-se hipóteses.

A primeira hipótese é que essas pessoas autistas com inteligência acima da média estejam mais conscientes das dificuldades de socialização decorrestes do autismo e, consequentemente, desenvolvem a depressão. A segunda hipótese é que indivíduos autistas com inteligência abaixo da média não consigam comunicar sobre seus sintomas e sentimentos, dificultando o diagnóstico da doença para esse subgrupo.

O impacto dos métodos científicos

Foi observado que os métodos utilizados influenciaram na identificação da depressão nos portadores de TEA. As taxas da doença foram maiores com o método de entrevistas padronizadas e estruturadas do que as taxas quando utilizaram os métodos menos formais. É possível que as entrevistas estejam realmente diagnosticando mais a doenças que os outros métodos, contudo, pode-se considerar que os resultados estejam distorcidos pelo fato das entrevistas não serem projetadas para as pessoas autistas. Foi analisado que a depressão é mais comum quando os sintomas são diretamente perguntados aos autistas do que seus cuidadores. Pode-se constatar que a falta de informação dos cuidadores em pesquisas interferem no resultado. Com o total de resultados analisados e comparados, certifica-se que a depressão é mais comum em autista do que se imaginava.

A pesquisa foi liderada por Chloe C. Hudson, doutoranda pela Universidade de Queen; Kate Harkness, professora de Psicologia e Psiquiatria e diretora do Mood Research Laboratory pela Universidade de Queen. O estudo foi subsidiado Social Sciences and Humanities Research Council, Canadian Institutes for Health Research, Ontario Mental Health Foundation, Universidade de Quenn e The Conversation CA.

Texto adaptado por Ana Carolina Gonçalves, da redação do Observatório do Autista®, direto do artigo publicado no site da The Conversation CA (https://theconversation.com/almost-half-of-adults-with-autism-struggle-with-depression-91889).